domingo, setembro 06, 2009

Mudei de endereço

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sexta-feira, julho 17, 2009

sexta-feira, junho 26, 2009

De Volta

Eis que esta budega volta a ter um novo post. E mesmo que este novo post seja curto, ele vem com a missão de anunciar que eu volto a me auto-estorvar por aqui. Reformulações serão feitas, e talvez até mude a hospedagem para o Word Press.

domingo, novembro 09, 2008

Ode ao Gato Zeus


Cego, o gato trombava
se os móveis, de lugar
o dono trocava.
Após dias cheirando
tateando o ambiente
voltava a se adaptar.
O dono, sarcástico
sádico
ria
trocando o sofá de lugar.
Cego, o gato voltava a trombar.
Até que um dia
conheceu um cão guia.
Largou seu dono e foi viajar.

* Zeus, o gato da foto, era um oriental cego, que pertencia ao meu amigo Pedro Menin. Morreu em algum mês entre janeiro e dezembro do ano passado. Seu sonho era comprar um cão labrador.


sexta-feira, novembro 07, 2008

Da Nudez às Roupas: Uma Inversão de Tabus

Os jogos de sedução, nas relações entre iguais e diferentes sexos, não passam de blefe. Um blefe no seu sentido mais enigmático. Quando se é seduzido, está incluso no pacote um convite ao desvendar. Seduzir é convidar o atraído como quem diz: “Tente descobrir meus segredos!”.

De maneira mais direta, isso seria dito, talvez com um “Tira minha roupa: Agora!”.

Blefar é nada mais do que iludir no jogo de baralho, simulando ter boas cartas. Blefar é esconder uma situação precária com falsas aparências. Blefamos nos jogos de sedução: usando roupas, escondendo a parte do corpo que interessaria ao outro, deixando à mostra apenas o caminho a percorrer - da entrada ao prato principal.

Muito psicólogo por aí diz que a roupa é de importância primordial, causadora da primeira faísca que acende a bomba dos desejos. O Antropólogo Bernard Shaw nos mostra, em seus estudos, que em algumas tribos, as mulheres fazem da roupa um acessório indispensável para os rituais de saciedade e fecundação.

Sendo assim, eu pergunto: e nós, que de maneira prepotente julgamo-nos civilizados, em que diferimos dos homens “selvagens”? Absolutamente em nada.

Nas tribos da Europa, nos rituais bárbaros de São Paulo Faschion Week (SPFW) ou nas cavernas de Nova York, as roupas continuam sendo usadas de maneira a fazer da sedução um blefe. Isso porque o tabu da nudez, involuntariamente, ainda vigora seu controle nos anseios nas áreas pudicas da sociedade. A polêmica causada com as calcinhas que não tampam nem o necessário, mostradas no SPFW, é um exemplo da soberania do pudor. Mas o fato ocorrido demonstra também que a humanidade se cansou das roupas. Cansou-se de ter que combinar peças de tecido com o único intuito de agradar aos olhos alheios.

Estamos todos voltando às origens. Nascemos nus, nossos antepassados viviam nus, queremos, e por que não, viver totalmente nus. A mulher quer se livrar da sina imposta de estar impecável e o homem quer se livrar da corda, chamada gravata, que o sufoca diariamente. Pensem na gravata. O ser humano é o único ser que se expõe ao ridículo de usar um pedaço de pano pendurado ao pescoço, parecendo uma língua ofegante. O único prazer em usar gravata está no momento em que se afrouxa seu nó, depois de um cansativo dia de labuta.

O tabu da nudez um dia se tornará o tabu da roupa. Isso ocorrerá através de um processo de mudanças nos elementos da moral embutida na consciência da sociedade. Tardará, e muito, para que chegue o dia do “strip-tease global”. Coisa que nossos índios ofereciam logo no primeiro contato. Mas a humanidade ainda vai despir-se das convenções. Chegará o dia em que a mãe, vendo a filha sair de casa pra uma noitada em uma destas badaladas boates, dirá:

- Tire esta roupa imediatamente antes de sair. Que menina mais despudorada. Onde já se viu sair assim, com uma saia tão longa. Sentes frio? Coloque aquele seu biquínizinho. Seja recatada minha filha.

Nas casas de strip-tease, o espetáculo será feito às avessas. Os homens se empolgarão cada vez mais, na proporção em que a dançarina vai se vestindo. Cada peça de roupa colocada é uma excitação geral. A gritaria muda de tom:

- Coloca, coloca, coloca!


As revistas que hoje tratam de moda, serão consideradas eróticas ou pornográficas. A Playboy se tornará o que hoje é a Revista Nova e vice-versa.

O conceito bíblico de Adão e Eva, que após comerem do fruto proibido, sentiram vergonha por estarem nus diante do criador, será reelaborado. A vergonha se fará existente por causa do moleton usado por Adão.

A Moda será uma atividade marginalizada, como a prostituição. Roupa é coisa de gente amoral. Andar com uma peça de vestuário na rua, como um casaco, será considerado um desacato. Seria como se hoje, saíssemos por aí segurando uma lingerie nas mãos.

O planeta será o mundo dos pelados. Nas festas adolescentes, oferecidas nas raras oportunidades em que os pais de um dos garotos viaja, a suruba será iniciada ao grito de “é isso aí, todo mundo vestido!”.

A nova moral será decretada, na mudança dos costumes e do deslocamento total do tabu que hoje é vigente em torno da nudez. Se Nelson Rodrigues ainda vivesse, escreveria algo intitulado como Toda Vestimenta será Castigada...

terça-feira, dezembro 11, 2007

Crítica - Corações Sujos (Fernando Morais)


Existe, entre duas classes distintas de profissionais que se dispõe ao árduo ofício de resgatar um passado histórico, certa desavença que parece infindável. Historiadores e Jornalistas pelejam em forma de críticas. No bojo de tal discórdia, parece haver entre os historiadores um fiozinho de inveja devido ao grande número de vendas atingido pelos “homens de imprensa” no mercado editorial. Entre os livros que tratam de temas históricos, os escritos por jornalistas geralmente são os que habitam as listas dos mais vendidos. Historiador geralmente tem como leitor outros que compartilham da mesma profissão.

A crítica aos historiógrafos é a de que estes não sabem conduzir sua escrita de maneira fluente, que possa atrair o leitor leigo, conduzindo-o ao final do livro sem abandono da leitura. A objeção aos gazeteiros recai justamente na linguagem leve que muitas vezes simplifica processos e conceitos intrincados e problemáticos.

É o que ocorre com Corações Sujos, do jornalista Fernando Morais (Companhia das Letras – 348 páginas). De escrita fácil e fluente, o livro, como qualquer outro, deve ser lido com reflexões e ponderações.

Ao tratar da Shindo Renmei ou “Liga do caminho dos Súditos” - associação surgida dentro da colônia japonesa no Brasil em 1944 com o objetivo de preservar a cultura japonesa e a imagem do imperador Hiroíto - Morais retrata com êxito as dificuldades vividas por japoneses: restrições impostas pelo governo brasileiro às pessoas advindas de nações que faziam parte dos chamados Países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) durante a Segunda Guerra Mundial. Tal organização recusava-se a acreditar na rendição do Japão aos Países Aliados, passando a assassinar imigrantes japoneses que acreditassem na derrota nipônica.

A leitura das páginas de Corações Sujos passa ao leitor a impressão de que existe uma ingenuidade fanática presente nos japoneses que não aceitam a derrota de sua pátria, pois o Japão nunca havia perdido uma batalha sequer em toda sua História. O equívoco encontra-se no fato de o autor não localizar o sentimento patriótico destes imigrantes no contexto historiográfico a que está inserido.

No livro, todo esta conjuntura é didaticamente explicitada. Desde o contexto da guerra até a posição do governo de Getúlio Vargas de proibir a publicação de jornais nas línguas japonesa, italiana e alemã, assim como a proibição do ensino dessas línguas nas escolas e o uso delas em locais públicos. A comunidade nipônica, por preservar suas tradições culturais, não era, em sua maioria, falante do português. Isso significava uma verdadeira condenação ao silêncio e à desinformação. Porém, o autor não faz uma interpretação dos fatos apresentados, uma ligação destes ao sentimento de humilhação de perder uma guerra, extremamente arraigado na cultura japonesa.

Diante destas observações, friso a necessidade de que o leitor atente para a reflexão esquecida pelo autor no corpo de seu texto. Interpretar a existência da Shindo Renmei como uma seita de fanáticos movidos por uma fé cega no imperador Hiroíto é simplificar todo um movimento social e um processo histórico que envolve jogos políticos entre nações potentes e emergentes, e suas conseqüências para o cotidiano de segregação e posição social inferior do que convencionou-se chamar de Homem Comum.

segunda-feira, novembro 19, 2007

É Dando Que (não) Se Recebe...




A mulherada que rala e rola para ganhar a vida alugando seus corpos para homens que delas se aproveitam sexualmente não devem ter gostado da decisão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que rejeitou o projeto de lei propondo a regulamentação da prostituição no Brasil. De autoria do deputado Fernando Gabeira, a concepção do projeto tem inspiração no exemplo da Alemanha – país onde a prestação de serviços de natureza sexual é legalizada e as moças contribuem com a previdência social. Se aprovada, tal lei faria com que prostitutas tivessem carteira assinada e todos os benefícios trabalhistas assegurados.

A rejeição ao projeto de Gabeira talvez possa levar muitos a pensar que nossos parlamentares são uns caretas, conservadores e atrasados, como classificou o deputado Maurício Lessa, favorável ao projeto. Mas as coisas não são bem por aí.

É bem verdade que nosso parlamento seja composto, em sua maioria, por velhos dinossauros políticos de mentalidade tradicional, moralidade hipócrita e conservadorismos que recusem à condição de setores sociais marginalizados - como as prostitutas - um projeto favorável. As meninas se beneficiariam demais com a aprovação do projeto de Gabeira, que visa ampará-las dos abusos e violências a que são expostas, sem ter na lei qualquer garantia de proteção.

O leitor me pergunta então quais são os motivos que me colocam contrário a tal projeto. Por que é que defendi logo acima que a rejeição do projeto não é um simples tradicionalismo da política brasileira?

A proposta de lei do nobre deputado sugere, além da regulamentação do ofício, a revogação de três artigos do Código Penal: Art. 228 (favorecimento à prostituição), Art. 229 (casa de meretrício) e Art. 231(tráfico de mulheres). Em palavras claras, ficam liberadas as práticas da cafetinagem, os puteiros e o comércio do mulherio para a profissão sexual. É óbvio que, liberando a prostituição, não há motivos para penalizar quem a favorece. O equívoco de Gabeira está em suprimir do Código Penal o artigo 231, pois motivos não faltam para manter ilícito o tráfico de mulheres. Legalizar a comercialização e aliciamento de seres humanos é o único motivo que me faz contrário à ideação de Gabeira.

Não fosse este mero detalhe, o projeto teria minha adesão absoluta. Regulamentar a prostituição é uma forma de assistir as trabalhadoras do sexo e incluí-las nos direitos de qualquer trabalhador. É obvio que nenhuma mulher escolhe ser prostituta. O meretrício é uma disfunção social decorrente da falta de perspectivas financeiras, profissionais e educacionais causadas pela incapacidade de um governo em ofertar qualidade de vida a seu povo. A regulamentação desta profissão não resolverá problemas sociais complexos que levam muitas meninas a se venderem para sobreviver, mas ajuda a combater a exploração sexual de crianças e adolescentes.

A prostituição é uma atividade que a sociedade condena e mantém. Não haveria prostituição caso não houvesse quem por ela pagasse. A regulamentação apenas fará com que as moças possam trabalhar sem a marginalização a que estão relegadas. A prostituição existe e esta realidade tem de ser admitida, e não varrida para debaixo do tapete.

Como minha imaginação não dá trégua, uma situação logo vem à cabeça: caso o projeto seja um dia aprovado e uma prostituta infecta-se com alguma DST, ou mesmo Aids, seu caso poderá ser considerado, pela lei, como acidente de trabalho? Fica a dúvida.